Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo grande desejo de ouvir coisas agradáveis, ajuntarão para si mestres segundo os seus próprios desejos, e não só desviarão os ouvidos da verdade, mas se voltarão às fábulas. (2 Timóteo 4.3,4) - Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina. (Tito 2.1)
1 Tessalonicenses 5:21

sábado, 26 de julho de 2008

Sobre o Dízimo (3)

Jesus ensinou tal prática?Jesus ensinou a prática do dízimo?

Argumenta-se que Jesus ensinou que devemos dar o dízimo em Mateus 23.23:

Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas cousas, sem omitir aquelas!

Note-se: obedecer os preceitos mais importantes da lei, sem omitir o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, é o que Jesus afirma.

De fato, esta afirmação de Jesus nos remete à discussão sobre a Lei e a Graça, o Velho e o Novo Testamento, a Antiga e a Nova Aliança.

Não ignoramos a profecia de Jeremias: Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá... (31.31). Esta profecia foi lembrada pelo autor de Hebreus que ensina a respeito de Jesus como Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas (8.6), e completa: Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer (8.13). Paulo afirma o mesmo com outras palavras: De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio (Gl 3.24-25).

Sabemos que há dois testamentos, duas alianças – uma antiga, que já passou, e uma nova, que vigora. Mas, quando começou a vigorar a nova aliança, o novo testamento? Hebreus responde: Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador. (Hb 9.16-17) Oh! Que significado tem as palavras de Jesus na última ceia: porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. (Mt 26.28).

Vemos, assim, que os evangelhos retratam acontecimentos da antiga aliança. Poderíamos dizer que o Antigo Testamento se estende até Mateus 27.50 quando “Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito.”

Dessa forma, podemos entender muitas passagens do NT:

Em Lc 1.15 o anjo Gabriel consagra João Batista ao nazireado, conforme Nm 6.3.
Em Lucas 2.21 Jesus é circuncidado obedecendo o disposto em Levítico 12.3;
Em Lucas 2.22 Maria se purifica conforme estabelecido em Levítico 12.4;

Em Lucas 2.23 os pais de Jesus oferecem o sacrifício prescrito em Levítico 12.6-8;

Em Mateus 8.4 Jesus manda um leproso fazer o sacrifício prescrito em Levítico 14;

Em Lucas 19.8 Zaqueu se submete duplamente à pena estabelecida em Êxodo 22.9;
Em Mateus 17.24 Jesus paga o imposto estipulado em Êxodo 30.11-16

Em Mateus 26.17 Jesus e os discípulos cumprem o requerido em Êxodo 12.1-27.


Entendemos, então, que enquanto Jesus vivia, a Lei Mosaica estava em vigor. Como entender Mt 8.4, onde Jesus ordena a apresentação de um sacrifício de animal ao que havia sido curado de lepra? É necessário que façamos isto hoje? Evidentemente que não. Da mesma forma, quando, em Mt 23.23, Jesus ordena aos fariseus que dêem o dízimo do cominho, da hortelã e do endro, devemos entender que eles estavam debaixo da mesma aliança mosaica que obrigou o leproso a cumprir o ritual de Levítico 14. Há, portanto, nos relatos dos evangelhos, um aspecto de transição entre o que é e o que há de vir. Por isso é preciso cuidado para não impor sobre o Novo Israel prescrições relativas ao Antigo Israel. Pois não estais debaixo da lei e sim da graça (Rm 6.14).
Túlio Cesar Costa Leite
Continua...